Chegou no apartamento dele por volta
das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou
mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as
unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás. Tocou a campainha e ele,
ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para
atender.
Ele perguntou se ela queria beber
alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou.
Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares. Quero
que você me escute, simplesmente.
Então ela começou a se despir como
nunca havia feito antes.
Primeiro tirou a máscara: "Eu
tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é
a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu
sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e
afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer
o que sinto".
Então ela desfez-se da arrogância:
"Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem.
Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com
você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada
deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou,
virou parte da minha história."
Era o pudor sendo desabotoado:
"Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você
no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como
ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou".
Retirava o medo: "Eu não sou
melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar
com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos
procuram. Encontrei".
Por fim, a última peça caía,
deixando-a nua "Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que
vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a
respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser
gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e
a gente recomeça de onde parou, paramos aqui".
E saiu do apartamento sentindo-se mais
mulher do que nunca.
Martha
Medeiros
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